quinta-feira, 18 de abril de 2013

Evitando desastre na abertura







Tendo aprendido as noções básicas do jogo, o jogador irá perceber que os lances da abertura, quando quase todas as peças ainda estão no tabuleiro, freqüentemente determinam o desenrolar da partida e em alguns casos o seu final.

Uma partida de xadrez é, de certo modo, semelhante a uma confrontação militar onde, como se sabe, em muito depende não somente da capacitação técnica e dos equipamentos das tropas, mas também da capacidade dos comandantes de antever o desenvolvimento da batalha e posicionar suas forças de modo a engajar as mesmas nos momentos e na ordem mais favoráveis. É por isto que cada jogador que controla a movimentação dos seus exércitos de madeira deveria conhecer os princípios básicos da abertura.

É bem sabido que qualquer partida de xadrez pode ser anotada e preservada para a posteridade. Um enorme número de partidas foi escrito ao longo da história do xadrez, e a sua análise ajudou a desenvolver todas as nuances da estratégia das aberturas. 

Eu não pretendo abordar todas as aberturas e as suas características, o que seria ama tarefa impossível em face da abundância de informações. Eu vou limitar-me a descrever alguns princípios gerais a serem seguidos e como evitar um desastre.


O Primeiro Princípio 


"A abertura é ganha pelo jogador que desenvolve as peças mais rapidamente. Esta é uma regra básica e é muito importante aplicá-la corretamente."




Vamos analisar um exemplo simples:


1.e3 e5
2.Bc4 Cc6
3.Df3 Bc5
4.Dxf7#




Parece que as Brancas fizeram tudo corretamente - desenvolveram duas peças e deram xeque-mate. Ainda assim, esta linha de jogo merece críticas. O primeiro movimento é fraco. O quanto é importante ocupar o centro do tabuleiro com os próprios Peões. Isto tem de ser feito na abertura, de modo a posicionar as peças do modo mais favorável. É por isso que o lance e4 é mais forte e mais lógico que o lance e3. Eu quero reforçar mais uma vez o que disse, que é importante tentar dominar as casas com Peões, especialmente as casas centrais.

O segundo lance das Brancas (2.Bc4) não é tão fácil de se contestar, embora ele não tenha tantos méritos. A experiência das gerações anteriores nos indica o melhor método para desenvolvermos nossas peças: primeiro avançar os Peões para o centro, depois mover os Cavalos, seguidos dos Bispos e só então as peças mais fortes - as Torres e a Dama. No nosso exemplo o Bispo saltou direto para uma posição importante, mas sem atentar para as conseqüências de um possível lance 2... d5 das Pretas, em que elas obteriam um forte Peão central e forçariam o Bispo Branco a recuar para posições inferiores, tais como d3, e2, b5 ou b3.

O xadrez é um jogo de lógica, e uma combinação de jogadas tímidas como 1.e3 e agressivas como 2.Bc4 não faz nenhum sentido e como tal merece ser castigada.

As Pretas retrucaram 2... Cc6, que deve ser encarado como um lance regular, não sendo de modo algum o mais forte possível, dada a situação. É verdade que o lance 2... Cc6 está de acordo com os princípios de desenvolver rapidamente as peças, mas ele não cria problemas para as Brancas, o que seria o caso do lance 2... d5!. O terceiro lance Branco 3.Df3 parece eficiente, mas um enxadrista experiente não o teria executado; mais até, ele nem mesmo o consideraria. 

Se as Pretas reagissem corretamente com 3... Cf6! a jogada da Dama Branca teria sido em vão. E além disso a Dama Branca ao ocupar a casa f3 priva o Cavalo do Rei de uma boa casa para agir, deixando ao mesmo nenhuma escolha senão ocupar um papel passivo na casa e2 ou mover-se para h3, para longe do combate no centro. A peça mais poderosa do jogo, a Dama, não deve entrar na batalha de modo apressado, sob o risco de ser caçada pelas peças menores do adversário, com ganho de tempo.  

Com relação à jogada das Pretas 3... Bc5??, ela é lógica apenas sob uma ótica formal (as Pretas desenvolvem uma segunda peça na seqüência correta), pois ela perde a partida. O fato é que as Pretas não levaram em conta a ameaça real representada pelo adversário. Você pode ver o quanto se pode aprender a partir da análise de uma partida muito breve e cheia de erros mútuos. Nós ilustraremos o primeiro princípio o do desenvolvimento rápido das peças, com uma partida disputada há mais de um século.



J. Schulten - E Morphy
Nova York 1857

1.e4 e5
2.f4

Esta é uma abertura antiga e romântica, que recebeu um belo nome, "O Gambito do Rei". Ela em geral define o jogo através de um rápido avanço das peças. A teoria moderna crê que a melhor defesa aqui é um contra-ataque, o que foi claramente demonstrado pelo talentoso jogador americano Paul Morphy.

2... d5!
3.exd5 e4!



Tomar quaisquer dos Peões não seria bom, as Pretas tentam ganhar tempo e desenvolver as suas peças colocando-as nas casas planejadas.

4.Cc3 Cf6
5.d3 Bb4
6.Bd2 e3!





Trata-se de um sacrifício de Peão ousado e com vistas ao desenvolvimento futuro, já que a Torre irá ocupar a coluna do Rei após o roque.

7.Bxe3 O-O
8.Bd2 Bxc3
9.bxc3 Te8+
10.Be2 Bg4
11.c4?



Podemos dizer, com um grau de confiança razoável, que esta jogada é particularmente prejudicial às Brancas. Seria preferível livrar-se da cravada na coluna do Rei, de preferência com 11.Rf2. Mas as Brancas desejam manter um Peão a mais no centro.

11... c6!

12.dxc6?!

Ainda não era tarde para jogar 12.Rf2 ou l2.h3. Ainda com uma vantagem material, as Brancas permitem que o seu adversário desenvolva o Cavalo da casa b8 com muita eficácia, e aí a vantagem das Pretas se toma esmagadora, na parte mais importante do tabuleiro.

12... Cxc6



13.Rf1

É difícil dar bons conselhos para as Brancas. 13.Bc3 Cd4 14.Bxd4 Dxd4 15.g3 pode ser retrucado com 15.Txe2+ 16.Cxe2 Te8 com um ataque decisivo. Parece que após 12.dc?! não há defesa para as Brancas.

13... Txe2!

14.Cxe2 Cd4



Toda a ação se passa na coluna do Rei, onde a cravada vertical tem um papel decisivo. Pois de fato as ameaças colocadas sobre esta coluna forçaram as Brancas a atrasar a retirada do seu Rei da clavada. Agora segue-se uma nova pequena combinação, transformando a cravada vertical em uma ainda mais perigosa, diagonal.

15.Db1 Bxe2+
16.Rf2 Cg4+
17.Rg1



O Rei começa a correr para todos os lados sentindo a iminência do desastre. Eu recomendaria, a todos os que querem desenvolver as suas habilidades de ataque, a deixar este post de lado por uns 20 ou 30 minutos e tentar achar sozinhos uma vitória rápida para as Pretas, só então retornando ao post e comparando a sua decisão com a que foi tomada por Paul Morphy.

17... Cf3+
18.gx3f Dd4+
19.Rg2 Df2+
20.Rh3 Dxf3+



21.Rh4 Ce3
22.Thg1 Cf5+
23.Rg5 Dh5#.






























Fonte: Aprenda xadrez com Garry Kasparov

|

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Traduzido Por : Template Para Blogspot
Copyright © 2013. chessneiro